Boa parte da tática dos séculos XVI-XIX dependia da forma de funcionamento das armas de fogo então disponíveis. Por serem de carregar pela boca, a bala usada tinha que ter um calibre inferior ao do cano, o que fazia com que o projétil andasse ao “trambolhões” dentro da arma durante o disparo, saindo do cano com desvios imprevisíveis. Outro problema era o cartucho usado, com uma quantidade e qualidade de pólvora não muito exatas (esse problema era menor nas armas de muito antigas, como as de mecha ou muito novas, como as de fulminante, onde não se usava a pólvora do cartucho na escorva). Os resultados desses defeitos inerentes a forma de carregamento era uma grande imprecisão e a lentidão no disparo (ver sistema de carregamento), também inerentes ao sistema.
Outra consideração era a ameaça da cavalaria, que fazia com que somente uma formação compacta de infantes pudesse se defender, formando um bloco de baionetas apontando para todos os lados, o “quadrado” ou, antes da invenção da baioneta, com o apoio de piqueiros.
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Quadrado inglês no Sudão, 1881. |
Tudo isso fazia com que as formações de infantaria fossem compactas e lineares, para fazer valer o efeito de suas armas - o que criava, por seu lado, grandes alvos para o fogo inimigo, especialmente da artilharia.
Como a coesão tática das formações era fundamental para o funcionamento das unidades, o objetivo principal do combate era fazer com que as fileiras do inimigo se desorganizassem, permitindo a ação plena da cavalaria na destruição e perseguição. Na infantaria, o fogo das espingardas era usado para desorganizar o inimigo, permitindo o ataque a baioneta. E esse fogo era feito a distâncias muito curtas pelos padrões dos dias de hoje.
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Treinamento de linha de atiradores, França, séc. XVIII |
Testes feitos na Alemanha em 1790 mostram a imprecisão das armas: um alvo de 30 metros por 1,8 metros de altura (supostamente representando a frente de um batalhão), serviu para as provas. A 200 metros, apenas 25% dos tiros atingiram o alvo. A 140 metros, 40% e a 70 metros 60% dos disparos tocaram no alvo. Resultados muito pouco animadores, se considerarmos o tamanho do alvo e as condições ideais em que foram executados os testes - fora do campo de batalha, com os atiradores e alvo estáticos, sem que o inimigo e o nervosismo perturbassem a mira, com tempo para a grande quantidade de fumaça dos disparos se dispersasse e assim por diante.
Em testes de longa duração executados na Inglaterra anos mais tarde, mais ainda em condições ideais, espingardas de pederneira conseguiram disparar, em média, 100 tiros em 32 minutos e 31 segundos, ou seja, uma média de pouco mais de 3 disparos por minuto, enquanto uma arma de fulminante conseguiu resultados ligeiramente melhores, disparando os mesmos 100 tiros em 30 minutos e 24 segundos (cerca de 3,3 disparos por minuto). Cremos que os resultados para uma arma de mecha seriam um pouco inferiores aos da arma de pederneira, devido aos passos adicionais relacionados com os cuidados com o morrão acesso, mas a cadência de tiro não deveria ser assim tão diferente (talvez, uma média de pouco menos de 3 tiros por minuto - sempre em condições ideais).
A evolução dos fechos (ver sistemas de inflamação), portanto, não resultou em uma cadência de fogo maior ou menor, mesmo porquê os soldados carregavam poucas balas - as vezes apenas 5 ou 7, mas nunca mais de vinte. A vantagem que se percebe na evolução das armas ficou em um ponto mais importante, a da confiabilidade das espingardas. Apesar de não termos dados estatísticos a mão, temos certeza que a confiabilidade das armas de mecha era muito reduzida, devido a susceptibilidade das mesmas aos efeitos da umidade. As armas de pederneira eram mais seguras, mas ainda assim o número de negas era muito alto. Nos testes de longa duração executados na Inglaterra e que foram citados acima, as armas de pederneira tiveram 922 negas em 6.000 disparos (15,4%) ou seja, praticamente um em cada seis tiros falhou. Nas armas de fulminante, sem as preocupações do ajuste correto das pederneiras e da correta colocação da escorva, o número de negas foi muito mais reduzido, sendo de apenas 36, nos mesmos 6.000 disparos (0,6%).
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Animação do disparo de uma arma de pederneira. |
O que tudo isso significava era imprecisão, pouca segurança nos disparos, dificuldade do carregamento (tudo tinha que ser feito em pé, com o auxílio de uma vareta que podia quebrar ou perder-se), etc. Do ponto de vista da tática, isso obrigava a que os combates fossem travados a distâncias que hoje consideraríamos curtíssimas - as vezes os oficiais controlavam o fogo de suas tropas, para que estas só disparassem o primeiro voleio a menos de 50 metros do inimigo, de forma a maximizarem o efeito do primeiro disparo, sempre o mais mortífero. A estas curtas distâncias uma segunda rajada era impossível, a carga a baioneta se seguindo - normalmente a tropa mais desorganizada com as pesadas baixas que o tiroteio causava fugindo em pânico antes que o contato fosse estabelecido.
A arma raiada e de carregar pela boca viria a mudar tudo isso.