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Fabricação artesanal de armas de fogo, do livro Espingarda Perfeita. |
O século XVIII pode servir de um marco para a evolução das técnicas - e estas tem profundas efeitos na armaria, como não poderia deixar de ser, pois esta é apenas um reflexo da sociedade como um todo. O período é marcado, em sua segunda metade pela Primeira Revolução Industrial, quando surgem as primeiras máquinas ferramentas (como a spinning jenny, de fiar) e as primeiras idéias de padronização e de peças intercambiáveis. O exemplo mais claro disso é o caso dos uniformes militares - agora o que interessava era mostrar um tropa que se distinguia da sociedade civil, não mais por sua aparência guerreira, mas por usarem de trajes específicos e costumes diferenciados, como a disciplina militar. Do ponto de vista das armas, surgem, na Europa, os primeiros modelos de armas com características suficientemente regulares para se poder falar de modelos, apesar das técnicas de fabricação, ainda majoritariamente artesanais e manuais, não permitirem falar de modelos com peças idênticas.
No caso da nossa história, o sistema militar implantado pelos Portugueses no Brasil já estava consolidado no século XVIII. Havia uma rede de unidades militares profissionais, suplementadas pelas milícias, tinham pequenos efetivos, mas cobriam todas as principais capitanias do país. Estas unidades eram compostas de soldados recrutados principalmente no Brasil, mas com a maior parcela dos oficiais vindos de Portugal, mantendo o esquema adotado desde o princípio da colonização, de que o Brasil deveria arcar com a sua defesa, dirigido pela metrópole.
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Milícias de moradores do Rio de Janeiro, 1786, mostrando os diferentes tipos de uniformes ainda em uso e o esforço local para a defesa. Washt Rodrigues. |
O período de decadência da metrópole européia - iniciado no século anterior, com a perda do monopólio asiático das especiarias e da cana-de-açúcar para outras nações - se acentua e Portugal, para manter sua autonomia política, passa a depender cada vez mais da ajuda militar da Inglaterra. Como não havia uma indústria nativas, as armas usadas na Europa e nas colônias portuguesas passam a ser, cada vez mais, oriundas do Reino Unido. Logo no início do século, as necessidade de defesa portuguesas levam a que os Ingleses se comprometam a fornecer milhares das novas armas de pederneira para Portugal, gerando isso até problemas para equipar as forças britânicas. Mais tarde, em outro exemplo, um acordo feito com a Inglaterra resultou na promessa de entrega para Portugal de 12.000 espingardas, 3.000 clavinas, 3.000 pares de pistola e 2.000 espadas.
Estas armas inglesas são usadas cada vez mais nos embates de fronteiras, especialmente no Rio Grande do Sul/Uruguai, nas guerras que se travam por volta da base comercial da Colônia do Sacramento, instalada para estabelecer o contrabando com as colônias espanholas dos Andes, produtoras de Prata.
Do ponto de vista dos equipamentos usados aqui, a principal mudança desse período é causada pelo surgimento das primeiras unidades de cavalaria regular do país - usualmente formadas por Dragões, ou seja, um tipo de tropa que era treinada para combater principalmente a pé como infantaria, só usando o cavalo para deslocamentos, sendo armada com as espingardas da infantaria. Este tipo de cavalaria, que na Europa era considerado de baixa qualidade, tinha a sua razão de ser na colônia, pois usava cavalos de menor preço e seus soldados podiam ser empregados em duas funções distintas: o combate a pé e a patrulhas a cavalo, dando a mobilidade tática da cavalaria ao infante, uma situação ideal para as condições existentes no Brasil - onde não se esperava que houvesse combates contra outras forças de cavalaria.
No Rio Grande do Sul, onde a situação era diferente, a lide diária do homem do pampa com o gado, permitiu o surgimento de uma cavalaria ligeira, miliciana, mas mesmo ali as forças regulares eram compostas de Dragões, mais apropriados as demandas da administração colonial.
Outra modificação importante foi o surgimento, nas capitanias centrais, das primeiras unidades de artilharia de campanha (a cavalo), para suplementar as tropas de artilharia de posição que serviam nos fortes, mas que sempre foram usados nas campanhas militares.