O século XVI é um período de transição na história do armamento – o século anterior tinha sido marcado pelo início da “Revolução da Pólvora”, ou seja, pelas profundas transformações sociais que são associadas à introdução das armas de fogo. Mas, apesar dessas modificações, as armas de fogo ainda não tinham se tornado predominantes no período que vai de 1500 a 1580, aproximadamente.
Desta forma, tão importantes quanto as espingardas, arcabuzes e mosquetes, eram as armas brancas tradicionais, em uso desde antes da Idade Média. De fato, a primeira ocupação militar do país, que ocorre já em 1501 com a construção de um pequeno forte na expedição de André Gonçalves a guarnição da posição é composta de homens igualmente divididos entre aqueles armados com espingardas e com bestas.
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Contato entre europeus e indígenas no Novo Mundo. Detalhe de De Bry. |
Ao longo dos anos, a supremacia das armas de fogo faz-se sentir cada vez mais, especialmente no Novo Mundo, onde a estrutura militar da Europa, com grandes massas de cavalaria, não existia. Mas, mesmo assim, as lâminas das espadas e de outras armas brancas continuam a ser componentes indissociáveis da vida militar nacional – e isso até os dias de hoje, nem que sejam apenas uma lembrança das práticas e tradições do passado.
Do ponto de vista da história do Brasil, o século é marcado pela invasão e ocupação do território. Devido às preocupações de Portugal, voltado para as conquistas no Oriente, a ocupação do território que hoje é o Brasil foi relegada a um segundo plano e quando iniciada efetivamente, a proposta foi de que a defesa do território fosse feita sem maiores gastos do governo central, recaindo os encargos com a proteção da conquista ficando na mão dos moradores da terra. A maior parte das iniciativas privadas de colonização – as capitanias hereditárias – foram destruídas pela resistência dos grandes grupos indígenas organizados da região costeira. Desta forma, os índios foram os principais elementos resistindo a ocupação européia do Novo Mundo. Os indígenas, mantendo suas características culturais e armas, tinham vantagens numéricas importantes, de forma que mesmo considerando que os métodos e organização bélicas deles não eram das mais adequadas para enfrentar os Portugueses, fazendo com que a intervenção direta da Coroa portuguesa fosse necessária.
Afora isso, o período é marcado também pelos primeiros grandes embates entre Europeus nas Américas, com a destruição da colônia francesa no Rio de Janeiro em 1565.
Para finalizar, cremos ser necessário frisar um ponto que será marcante em boa parte deste sítio: a produção de artefatos militares é simplesmente um reflexo das condições técnicas e sociais de um dado momento histórico. Desta forma, antes do século XIX, e dos efeitos da Revolução Industrial, toda as manufaturas eram manuais, logo não havia uniformidade nos equipamentos usados pelos soldados. De fato, a própria idéia de artefatos padronizados seria exótica no século XVI, onde a individualidade era a norma, tanto é que o armamento e equipamento individual dos soldados, por norma, não era dado pelo governo, mas adquirido pelo próprio indivíduo, de acordo com suas preferências e possibilidades financeiras. O resultado prático é que não podemos falar de armas padronizadas no período do século XVI, somente em linhas gerais de estilos e tipos adotados, quase como uma “moda”, que varia com o tempo e com a forma de se fazer a guerra de um dado momento.