A Revolução Francesa e as guerras que se seguiram são pontos fundamentais para a história do Brasil e do seu Exército. As profundas mudanças ocorridas em toda a sociedade não poderiam deixar de ter grandes reflexos nas forças armadas. Na Europa, surgem os grandes exércitos, formados por conscritos - homens recrutados em amplas parcelas da sociedade e não mais exclusivamente entre a nobreza e os setores mais explorados.
O velho exército português dissolveu-se quando teve que enfrentar as tropas invasoras francesas, organizadas nos novos moldes, o que levou à fuga da família real portuguesa para o Brasil. Para enfrentar o invasor da metrópole, forças inglesas foram enviadas à Portugal, e o comando do exército e a regência do país dados ao general inglês Beresford. Entremeando as unidades inglesas e portuguesas e, dentro das unidades portuguesas, colocando um grande número de oficiais ingleses, Beresford reorganizou o exército lusitano seguindo moldes britânicos e estas tropas levaram à vitória final contra os franceses.
Naturalmente, esta reorganização e influência inglesa teriam seus reflexos na colônia Americana. O armamento, que se anteriormente era majoritariamente inglês, passou a ser totalmente proveniente daquele país, por imposição de Beresford, que suprimiu a fabricação em Portugal. Tropas lusitanas, seguindo os modelos ingleses, foram enviadas para o Brasil, para a Campanha Cisplatina e as unidades locais se adaptaram aos novos padrões introduzidos pelos ingleses. O manual militar adotado em Portugal neste período é o do Conde de Beresford, sendo que este foi reimpresso na Bahia e no Rio de Janeiro em 1811 e 1812 - o primeiro manual militar publicado no Brasil - sendo que este manual continuou a ser empregado, de forma mais ou menos regular, até a guerra do Paraguai.
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Embarque das tropas para Montevidéu, 1816. Debret. |
É este novo exército que vai servir de base para a criação do exército brasileiro, com a Independência, agora um verdadeiro exército nacional, e não mais tropas portuguesas no Brasil.
Algumas das mudanças que vão se consolidar após a Independência já eram perceptíveis de início: Portugal, durante todo o período colonial, tinha evitado a criação de tropas especializadas no Brasil - não havia infantaria pesada (granadeiros), a infantaria ligeira que existia era mais organizada em função da existência de tropas irregulares do que uma verdadeira infantaria leve e a cavalaria se concentrava nos Dragões - montados em cavalos inferiores à prática européia e com treinamento mais voltado para o combate a pé (como infantaria montada) - tudo em função de uma política que visava a maximizar o uso das forças armadas como instrumento de polícia para repressão interna, ao mesmo tempo que diminuía os custos operacionais.
Com a vinda da família real portuguesa, algumas modificações são perceptíveis, como a transformação das unidades de cavalaria para o padrão de cavalaria ligeira (mais adequado à índole do gaúcho e levando em consideração a qualidade dos cavalos locais), foram criadas unidades especializadas de caçadores (infantaria leve) e de granadeiros (infantaria pesada), bem como artilharia de campanha, visando adequar o exército colonial aos padrões europeus. Estas transformações se aceleram um pouco com a Independência, mas o processo de criação de forças armadas nacionais seria, inicialmente, lento, pois o Primeiro Reinado não representou uma ruptura radical com os padrões da metrópole.
Com a abdicação de Pedro I, em 1831, a situação se modifica. As forças armadas, vistas com desconfiança pelos políticos dos primeiros anos da Regência, foram muito reduzidas e os oficiais estrangeiros demitidos, o que foi um golpe particularmente forte para a Marinha, dada a carência de oficiais brasileiros na Força. Fortes costeiros, unidades militares provinciais e boa parte da esquadra foram desativados, os navios sendo colocados em reserva, para apodrecer. Em terra, a antiga organização de milícias e ordenanças foi extinta, sendo substituída pela nova Guarda Nacional. controlada pelas elites provinciais.
Desestruturado, o Exército teve dificuldade em lidar com as diversas revoltas que ocorreram no período de 1831 a 1848 e que colocaram a integridade do Império em jogo.