A Dreyse foi a primeira arma realmente moderna (usando como padrão o vindouro século XX) a ser adotada pelo Exército Brasileiro. Apesar disso, é praticamente desconhecida, tanto na historia, quanto na documentação Brasileira.
|
Cartucho combustível Dreyse. A descoberta do segredo da fabricação dessa munição foi uma das tarefas dadas ao recém-criado laboratório do Campinho em 1850, o que foi feito com sucesso. |
Era um fuzil (se é que podemos usar este termo), de retrocarga e de ferrolho, usando um cartucho de papel combustível, ou seja, que se consumia durante o disparo. Seu nome comum era espingarda de agulha (ou "de alfinete", como seu usava na época), pois o percussor tinha a forma de uma agulha bem fina. Este, ao disparar a arma, atravessava o cartucho e a carga, para detonar a espoleta, presa à bala. Apesar do nome dado a ela no Brasil, não era uma espingarda, o seu comprimento a equiparando a uma carabina tradicional.
Apesar do que alguns autores colocam, foi feita apenas uma compra delas (provavelmente em 1850, pois já estavam aqui naquele ano), em Hamburgo, imaginando-se que seria um bom equipamento para distribuição aos mercenários alemães contratados para a campanha contra Rosas (1851). Consideramos este fato curioso, já que Hamburgo não fazia parte do Reino da Prússia e estas armas eram consideradas quase que como um "segredo de estado", não havendo, aparentemente, justificativa para a sua vinda para um país de pouca importância para os europeus, como o Brasil.
Certamente não eram armas regulamentares prussianas, como pode ser comprovado pela compra de um pequeno número de clavinas de Cavalaria – que não eram usadas por aquele país, pelo menos naquele período. Infelizmente, como existem no Brasil dezenas de Dreyses – de diferentes modelos, algumas com a modificação de Beck, de 1870 (!) – e como quase não há informação documental sobre elas, não podemos dizer muito sobre os modelos específicos usados aqui.
|
Única imagem conhecida de Dreyse publicada no Brasil. A peça de baixo é a agulha, que servia de percussor para o cartucho. |
Seu emprego, entretanto, é bem mais conhecido. Compradas para a campanha de 1852-53, segundo o relatório do Ministério publicado em 1853, um pequeno número (não mais do que 190 armas) participou da campanha de Caseros. Há também informações que as clavinas foram distribuídas para a Cavalaria e para os colonos do Rio Grande do Sul. A curta experiência de uso no campo, não deve ter sido muito boa, já que foram colocadas em depósito logo após as operações – o mesmo não acontecendo com as tige, que ficaram em uso no 1º Batalhão de Infantaria. Em 1855 elas reaparecem novamente, cedidas temporariamente pelo Exército à Marinha, para armar as praças do Corpo de Infantaria de Marinha que compunha a expedição que iria ao Paraguai. Novamente, não devem ter sido bem vistas, pois retornaram ao depósito.
No início da Guerra do Paraguai, em 1866, foi feita uma avaliação das armas existentes no Arsenal de Guerra, mas o parecer foi negativo. Em 1868, tendo em vista o papel mais ativo do futuro Duque de Caxias na condução da guerra, elas voltaram a ser distribuídas. Como diz Dionísio Cerqueira sobre o ataque ao forte do Estabelecimento, onde elas foram usadas:
"O 15º [Batalhão], mais conhecido por Batalhão de agulha ou de atiradores, ia na testa, comandado pelo Méier, o nosso estimado instrutor de tige da Escola Militar. Estava armado com espingardas de agulha, das que deram aos prussianos de Moltke e Guilherme I as suas estupendas vitórias; e fora constituído por praças escolhidas dos outros corpos".
Infelizmente, o mecanismo das Dreyse era muito pesado, tornando a arma imprópria para o uso de caçadores (Infantaria ligeira). Além disso era delicado, pois a agulha, sujeita às temperaturas elevadas do disparo, destemperava-se com facilidade, quebrando-se e inutilizando temporariamente a arma. Finalmente, não havia previsão para a vedação da culatra, a não ser pelo ajuste mecânico das peças. Após alguns disparos, a sujeira se acumulava no ferrolho, fazendo com que gases escaldantes escapassem da arma, no rosto do atirador – uma coisa que, no mínimo, era extremamente incômoda.
Assim, durante o combate, as armas não foram muito bem sucedidas, como Dionísio Cerqueira complementa:
"Os soldados do 15º lançavam fora as espingardas de agulha, que falhavam muito e se apoderavam para combater das Miniés dos mortos e feridos dos outros batalhões"
Após esta batalha, as armas foram recolhidos a depósito, desaparecendo de nossa história, não sendo sequer mencionadas no Manual do Soldado Artilheiro, de 1872.
Em alguns documentos do Exército, aparece a informação que "esta espingarda [modelo 1841 prussiano] tornou-se regulamentar no Exército Brasileiro sob a denominação de modelo de 1851".
Carabina
Dreyse M841 alemão(?) Dados técnicos: |
|
Calibre: |
15,43 mm |
Comprimento: |
136 cm |
Peso: |
5
kg |
Raias |
4 a direita |
Alça |
600 paços |
Alcance útil: |
|
Cadência de fogo: |
10-15 tiros por minuto |
|