Carregamento

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O sistema de carregamento das armas de mecha, pederneira e fulminante é mais ou menos o mesmo, com as alterações decorrentes apenas das mudanças do sistema de ignição.

Por serem armas de carregar pela boca, o atirador tinha que ficar de pé durante todo o processo e o passo inicial era colocar a arma em descanso, colocando-se em seguida a escorva na caçoleta. Esta poderia ser pólvora fina retirada de um polvorinho ou frasquinho ou, mas para meados do século XVIII, poderia ser parte da pólvora do cartucho, que se rompia com os dentes para escorvar a arma (no século XIX, a escorva era uma cápsula metálica, com fulminato de mercúrio, que se colocava no pistão, no cano).

Escorvada a arma, apoiava-se a coronha no chão e derramava-se a pólvora cano abaixo e, em seguida colocava-se a bala com uma bucha (que, no caso do cartucho de papel, era o próprio cartucho), calcando-se tudo cano abaixo com a vareta.

Terminados estes passos (que nós simplificamos, para facilitar o entendimento), a arma estava pronta para ser disparada.

32 dos passos  de treinamento de tiro de um arcabuz. Do livro Landrettung, 1620.

Como curiosidade, colocamos abaixo um trecho do Manual do Conde de Lippe para a cavalaria (1763), dando os passos completos do carregamento, na linguagem precisa e que tentava “automatizar” os movimentos humanos, característica do período. Alteramos um pouco a ordem dos passos, para facilitar o entendimento.

Carregamento:

6 Por o cão no descanso – Um tempo.–

Executa-se este mandamento, abaixando vivamente o cotovelo direito.

7 Pegar no Cartucho – Dois tempos.–

No primeiro leva-se a mão direita à cartucheira, ou patrona, pelo mais breve caminho, bate-se sobre ela, e logo se tira um cartucho.

No segundo leva-se a mesma mão com o cartucho, e o Soldado o põe em distância de meio pé da sua boca.

8 Morder o cartucho –- Dois tempos.–

No primeiro leva-se vivamente o cartucho à boca, e se morde na extremidade.

No segundo rasga-se, e torna o Soldado a pô-lo a mesma distância de quase meio pé da sua boca.

9 Escorvar. – Dois tempos. –

No primeiro volta-se para baixo a mão direita; e firmando o dedo polegar no fuzil, se enche a caçoleta de pólvora.

No segundo se põe os últimos dois dedos da mão direita detrás do fuzil, tendo-se o cartucho direito entre os dois primeiros dedos, e o polegar da mesma mão.

10 Fechar a caçoleta. – Dois tempos. –

No primeiro fecha-se rapidamente a caçoleta, puxando com a mesma rapidez o braço direito contra o corpo, tendo sempre o cartucho direito, e firme da maneira que se acabou de dizer.

No segundo se pegará na clavina com os últimos dois dedos da mão direita por detrás do cão com movimento firme, e bem assinalado.

11 Passar as armas a carregar. – Um tempo –

Executando-se passando as armas ao lado esquerdo: e a razão é, porque da mesma sorte se deve carregar a cavalo: no mesmo tempo largando da mão direita a clavina, se levanta, e apresenta o cartucho quase três polegadas de distância da boca da clavina.

12 Meter o cartucho na clavina. – Dous tempos. –

No primeiro se volta a mão direita, e metendo o cartucho no cano da clavina, se sacode nele toda a pólvora.

No segundo se leva arrebatadamente a mão direita sobre a vareta.

13 Tirar a vareta. – Um tempo. –

Tira-se a vareta com toda a vivacidade possível, arrima-se o extremo mais grosso por cima do boldrié, encurta-se, e leva-se à altura da boca da clavina.

14 Calcar o cartucho. – Um tempo. –

Mete-se a vareta com força na clavina, levando-a até o fundo do cano, logo se puxa acima, estendendo o braço direito com vivacidade tanto, quanto se puder estender, para que saia a vareta fora do cano; e então arrimando o extremo mais delgado para cima do boldrié, se encurtará, e levará logo à altura da boca da clavina.

15 Mete-la em seu lugar. – Um tempo. –

Torna-se a meter a vareta na caixa com a mesma vivacidade recomendada, e logo imediatamente se põe a clavina diante da espádua esquerda, estendendo-se a mão esquerda debaixo do coice da clavina, e no mesmo tempo se leva o pé direito para diante, e se põe ao lado do esquerdo.

Equipamento de Soldado Francês, sécs.XVII-XVIII, mostrando, além da baioneta, o material de carregamento da arma: boldrié (cartucheira), polvorinho de pólvora grossa, polvorinho de escorva e agulheta.

16  Armas ao ombro. – Um tempo –

Leva-se a clavina ao ombro esquerdo, e deixando cair o braço direito, pendente do mesmo lado, se deixa na posição declarada no Artigo IV.

Os passos seguintes seriam os do disparo, que, no livro, aparecem antes do carregamento:

1 Juntar a mão direita á clavina. – Um tempo –

Este mandamento se executa, pegando na clavina com a mão direita, voltando os fechos para a parte de fora, e tendo sempre a clavina nesta posição.

2 Armas à frente. – Um tempo. –

Tira-se a clavina arrebatadamente do ombro, pegando-lhe com a mão esquerda juntamente por cima dos fechos, de modo que o dedo mínimo toque a extremidade superior, o dedo polegar estendido sobre a coronha, e que a clavina não esteja muito desviada do corpo, a mão esquerda deve ficar na altura dos olhos.

3 Preparar as armas. – Dois tempos. –

No primeiro volta-se a coronha para fora, pondo o dedo polegar da mão direita sobre o cano, o primeiro dedo sobre o gatilho, e os outros três detrás do guarda-mato, e levantará o cotovelo direito.

No segundo se armará, abaixando vivamente o cotovelo, tendo sempre o dedo polegar sobre o cão, e primeiro dedo da mão direita sobre o gatilho.

4 Apontar. – Um tempo. –

Leva-se vivamente o calcanhar direito para trás do esquerdo, o coice da clavina à espádua direita, abaixa-se um pouco a boca da clavina, e assim se tem direita diante de si.

5 Fogo. – Um tempo. –

Puxa-se pelo gatilho, e depois retira-se a clavina ao final, abaixando-a vivamente para o lado direito, tendo-a firme contra o corpo por cima do boldrié em uma situação horizontal, e no mesmo tempo se pega no cão com a mão direita.